quarta-feira, 28 de outubro de 2009

No estádio e na web, experiência hipnótica do show do U2


Com os 96 mil ingressos esgotados para o concerto no The Rose Bowl, na Califórnia (EUA), o U2 resolveu levar o show da turnê 360º muito além das arquibancadas do estádio no último domingo, 25 de outubro. A banda irlandesa usou a web para mesmerizar 1,3 milhão de fãs mundo afora, que não tiraram os olhos do YouTube nem os dedos frenéticos do teclado para trocar impressões no Twitter sobre o webcast global.

A performance de Bono, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton foi assistida em 19 países nos cinco continentes via canal exclusivo do portal de compartilhamento de vídeos. Lá, o espetáculo foi transmitido em alta definição e agregou vídeos oficiais e relacionados, comentários e venda online de CDs. O sucesso do evento reflete uma das facetas de um cenário em que os artistas ganham pouco com a venda de CDs ou de downloads legais de música.

“Do ponto de vista do negócio, precisamos ir além da qualidade da transmissão, sua audiência e repercussão. Quanto será que o YouTube e a Universal, gravadora do U2, investiram no projeto? Não deve ter sido nada barato”, questiona Ale Rocha, editor do blog Poltrona, especializado em televisão. “Certamente, muito mais caro do que uma exibição pela TV – em que a estrutura de transmissão não precisa de reforço, pois servidores não caem, e há inserções comerciais que pagam a iniciativa”, afirma.

De acordo com Rocha, o YouTube abriu a porteira. Resta saber se a boiada vai passar. “O que definitivamente não acredito é que a internet vá devorar a TV. O rádio, o jornal, o cinema e as revistas estão aí até hoje para provar que é possível a convivência. No entanto, novos modelos de negócio são necessários”, diz o jornalista.

Para Rocha, muito em breve os números computados de audiência vão perder importância e o que vai valer realmente será a opinião emitida online. Na madrugada do show, a hashtag #u2webcast estava nas alturas entre os trending topics no Twitter. “Se o diretor do show tivesse uma tela sintonizada no microblog, certamente reduziria o número de músicas do álbum No Line on the Horizon no setlist e incluiria alguns clássicos que ficaram de fora, como Pride (In the Name of Love)“, assegura.

Não é de hoje que programas de auditório decidem a duração de uma atração no palco de olho nos gráficos do Ibope. O problema, segundo Rocha, é que essa metodologia não se encaixa mais em tempos de web 2.0. “Eu posso sintonizar a Globo, ir para a cozinha, odiar o que está passando e ter preguiça de retornar para a sala e mudar de canal. Os números são frios. Na internet, posso dizer: ‘Pelo amor de Deus, alguém tira essa banda do palco do Domingão do Faustão!”. Para Rocha, se centenas ou milhares de pessoas dissessem o mesmo, certamente haveria uma mudança no rumo da atração. “O poder do telespectador além do controle remoto ou do botão liga/desliga. É uma forma de cobrar qualidade. É a tão sonhada interatividade.”

O álbum No line on the Horizon, lançado em março pelo U2, vendeu “apenas” um milhão de cópias, o que deixou os integrantes da banda desapontados. Os dois discos anteriores – All That You Can’t Leave Behind, de 2000, e How to Dismantle an Atomic Bomb, de 2004 – venderam 7,5 milhões cada. Mas era outra época.

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